Jogo Baleia Azul: Ainda precisamos falar mais sobre isso

O Poder dos Pais      Jacqueline Vilela • 20 Abril 2017

Eu sei que já existem muitas matérias sobre o assunto circulando na Internet, mas eu continuo recebendo várias mensagens de pais aflitos perguntando: - O que mais eu posso fazer para perceber que o meu filho é um candidato a entrar nesse jogo da Baleia Azul (Blue Whale)?

Por isso eu resolvi escrever sobre o tema e conversar com você. No final desse artigo eu compartilho as minhas dicas sobre o assunto, mas antes de chegar nelas eu preciso organizar o artigo como eu sempre faço quando algum assunto aqui em casa precisa ser olhado e por isso vou começar pela Informação, mas não vou me estender muito nela porque está fácil encontrar detalhamento sobre o jogo: 

O Blue Whale (Baleia Azul) já acontece em diversos países, no Youtube tem inúmeros vídeos a respeito e no Facebook vários grupos fechados e faz o adolescente cumprir 50 desafios pré-estabelecidos por curadores (com perfis falsos nas redes sociais) que vai desde mutilar os braços com facas, assistir filmes de terror na madrugada até a última, que é cometer suicídio. 

'Quando uma pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida.'' Augusto Cury

Duas mortes no Brasil estão relacionadas com o jogo, mas em outros países já se estima que são centenas. Só nesta semana eu recebi muitos artigos falando sobre o mesmo assunto, vários relatos de jovens que se envolveram no jogo, histórias de pessoas que se infiltram para tentar salvar os que participam. Houve, de fato, uma mobilização sobre o assunto "suicídio", coisa que antigamente era tabu.

Certo. A informação resumida é essa. Agora vamos juntos partir para a Reflexão. Sempre que eu tenho um problema familiar (sim, eu também tenho e todos temos ou teremos em algum momento do desenvolvimento dos nossos filhos) eu colho as informações e depois faço a minha reflexão sobre como eu estou contribuindo para essa realidade.

E sempre que algo acontece na sociedade ou na comunidade onde eu vivo, eu também percorro esse mesmo caminho: informação/reflexão porque eu acredito que somos seres coletivos e conectados e que a minha ação ou omissão também impacta o outro. Talvez as suas reflexões sejam as minhas e a de inúmeros pais (porque temos uma mente coletiva), que se aproxima de: Como perceber? Como evitar? Controlando o uso da Internet? Mais conversa com os filhos? Mais o que?

Essa é uma questão profunda e complexa nos dias de hoje. Então vamos fazer de conta que eu estou no sofá da sua casa, tomando uma xícara de café (ou chá, o que preferir) e refletindo sobre o nosso papel dentro do assunto:

Eu vou te dizer que estamos em um longo sono profundo, cada um vivendo as suas vidas e postando nas redes sociais o que convém, o belo, o correto, o que será aceito. Como pais, estamos vivendo um período difícil: Não sabemos pedir ajuda para as questões que não conseguimos resolver porque nos cobrimos de vergonha, medo e culpa.

Você sente que tem um monte de gente apontando o dedo e dando pitaco na sua forma de educar? Isso te paralisa? Nos meus atendimentos em coaching e nos meus programas exclusivos para pais de adolescentes uma queixa muito comum é a sensação de fracasso que gera vergonha e silêncio.

Eu também já me peguei pensando: Onde estávamos quando os números do suicídio começaram a crescer?  Nos últimos 10 anos o número de suicídios aumentou 40% entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. Já entre os jovens de 15 a 19 anos o crescimento foi de 33%. E olha que "paramos" de divulgar as estatísticas em 2014, por isso esse número pode ser ainda pior.

Hoje, 11,5 milhões de brasileiros são diagnosticados com a doença, o que representa 5,8% da população do país, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, o Brasil é a nação que apresenta o maior índice de depressão da América Latina. 

Queremos tanto que os nossos filhos tenham acesso às tecnologias e à informação que esquecemos de fazê-los ter acesso a duas coisas essenciais para uma mente saudável: O acesso a ele mesmo e o acesso à nós, os pais.

A confusão dos pais chega no auge quando a boca que fala: - Nossa, essa mãe não percebeu que o filho estava com problemas? Pertence à mesma pessoa que pensa: - Será que o meu filho seria capaz de fazer isso?

Você já percebeu pensamentos conflitantes assim em você? Eu sim.

E continuamos nesse sono profundo até que alguma coisa grave acontece e nos lembra: precisamos acordar e reagir. A bola da vez é a Baleia Azul.

 

Nessa hora da nossa conversa sincera, regado a um café (ou chá) gostoso, você já me deu a sua opinião também. E eu respeito a sua opinião, mas sempre vou te pedir para refletir mais um pouco se na conversa aparecer esses 3 fortes julgamentos (os mesmos que eu mais vejo nos posts sobre casos desse tipo e que tem enfraquecido completamente as chances de cura coletiva):

 

1- A culpa é do adolescente de hoje que não quer saber de nada e ganha tudo de mão beijada.


Culpar os jovens não está ajudando porque eles são frutos do meio. Se você começou por aí, eu com certeza vou te convidar a repensar. Me permita nessa conversa sincera te explicar que os nossos jovens estão perdidos, sem parâmetros emocionais para seguir dentro de uma nova sociedade que mudou as regras do jogo. Definitivamente o mundo moderno não é o mesmo que nós, os pais, vivemos. Muita coisa mudou entre a nossa adolescência e a atual, a contar pela própria percepção do tempo, a dinâmica na educação dos filhos e a velocidade com que a informação chega.

Se antes você fazia uma besteira de adolescente (quem nunca?), meia dúzia de pessoas ficava sabendo. Hoje um vacilo e a escola inteira, o bairro, a cidade pode acessar a informação em um clique.

Nos meus atendimentos em coaching vocacional para adolescentes eu vejo o quanto eles querem se encontrar, saber mais sobre si mesmos, mas o quanto é difícil acessar o mundo interno sozinhos. Uma simples pergunta sobre: Do que você gosta? Gera momentos de tensão, seguidos de um sonoro: Eu não sei.

Maria de Fátima, 16 anos, era excelente aluna, melhores notas, exemplar. 

Gabriel Antônio, de 19 anos, tinha uma filha pequena e planos para o futuro com a mãe dessa bebê.

O que deu errado? Onde tudo começou a desmoronar na cabeça desses jovens? Por que os sinais não foram suficientes para os pais perceberem a gravidade, para a escola, para os amigos ou alguém próximo dar o alarme?

Pais, amigos e professores desses jovens relataram que em algum momento o comportamento mudou. As marcas, a introspecção, a mudança de humor, da rotina, de hábitos. Tudo isso mostrava um indício que em algum momento foi ignorado por alguém. 

Na séria 13 Reasons for Why, uma série da Netflix que também virou febre e fala sobre o suicídio, a adolescente Hannah fala que não é um acontecimento isolado e sim o efeito borboleta (definição utilizada na teoria do caos) de vários acontecimentos que juntos causam a sensação de solidão extrema e de completo vazio existencial. Não é a solidão do sentir-se sozinho e sim a sensação de certeza de que não há saída.

Todos os filhos são bons. Assim como os pais. Bert Hellinger

Ou seja, o jovem não acorda de um dia para outro pensando em tirar a própria vida, ele é seduzido por essa opção dia após dia. Augusto Cury traduz impecavelmente com a frase: "Quando uma pessoa pensa em suicídio ela quer apagar a dor, mas nunca a vida".

Os jovens querem saber sim, apenas não sabem como fazer isso. No final dos meus processos de coaching vocacional eu sempre me encontro com um jovem diferente do que eu conheci: Mais seguro, decidido, mais conhecedor de si mesmo e mais confiante.

Eu gosto de pensar que estou ajudando esse jovem a ter perspectiva sobre a vida e sobre as possibilidades. Sempre que um novo processo se inicia, mesmo diante de um jovem apático e sem motivação, eu imagino que dentro dele tem um potencial enorme a ser explorado.

E na maioria das vezes eu consigo acessar esse potencial e gerar uma faísca de esperança para uma vida com mais sentido. Nossos jovens precisam de pessoas que queiram ver a bondade neles e não apenas o comportamento que escondem quem eles realmente são.

Eu também conheço muitos profissionais competentes, psicólogos, educadores, psiquiatras. Eles estão a postos para ajudar, mas primeiro precisamos romper a barreira da vergonha e do medo.

 

2- A culpa é dos pais que não souberam educar

 

Culpar os pais também não está ajudando, você não acha? Se um dedo apontado fizesse os pais pararem para refletir já teríamos visto algum avanço na diminuição dos casos de suicídio. Se você é mãe ou pai e já se pegou fazendo julgamento de outros pais, por favor reflita mais um pouquinho.

A ajuda de que precisamos passa por por empatia, por amor, por amparo. Passa por mais informação, um compartilhamento de um artigo, um olhar diferente não só para o seu filho, mas para os amigos do seu filho também. Ajuda mais o posicionamento da comunidade, como algo vivo capaz de amparar a juventude em valores mais sólidos. Ajuda a ação e não julgamentos. Ação anônima como de tantas pessoas que entraram no jogo para dar uma palavra de conforto e a ação direta que é a de perceber que um amigo do seu filho está com dificuldades e ir lá conversar com ele.

"É preciso uma aldeia inteira para educar um filho" já dizia um ditado africano. E a nossa aldeia está funcionando precariamente nos últimos anos.

Eu vou te falar com muita propriedade: Os pais de adolescentes estão escondidos, com vergonha, medo e culpa. Estão espalhados na Internet, sem voz, sendo julgados pelo fracasso do "grande projeto de vida" que tinha para os filhos e sem direito a defesa. Por causa do medo que sentem, me procuram pelo Whatsapp, no particular, porque sentem vergonha de expor seus problemas abertamente no meu canal do Facebook. Se sentem julgados e acuados.

A mesma opressão que os nossos filhos sofrem na internet, você como mãe ou pai pode estar sofrendo neste exato momento. Já parou para pensar com absoluta sinceridade sobre como você se sente a respeito das tecnologias e sobre o que percebendo os seus amigos e conhecidos a partir do que eles postam nas redes sociais? Já se deu conta de como você e eu somos bombardeadas de informação montada e manipulada? 

Você, pessoalmente, já postou uma foto linda, em uma paisagem incrível, sorrindo, quando na verdade estava triste, preocupada ou se sentindo fracassada? Eu já. E talvez nesse momento eu sinta vergonha de dizer isso para você, sentada na sua sala e tomando um café, mas é necessário admitirmos uns para os outros: os pais sofrem também.

É algo novo para nós, algo que ainda também não temos o domínio para lidar com total inteligência emocional (eu me incluo nesse "nós") e que assusta e paralisa. Ainda não sabemos como dimensionar a proporção de uma ação realizada na Internet e a maioria das pessoas não mostra nas redes sociais a realidade das suas vidas.

Posso te afirmar que o que você vê nas redes sociais não é o reflexo da vida de uma pessoa e sim o "recorte" que ela quis que você soubesse da vida dela. Uma foto feliz ao lado do filho encobre uma mãe que se sente culpada e sem saber o que fazer com um filho pré-adolescente ansioso. 

Certa vez uma conhecida começou a postar as preocupações do dia a dia. Ela estava passando por um momento difícil e reclamava isso no Facebook. Depois de um tempo postando as preocupações, uma outra "amiga" em comum comentou o quanto ela estava sendo chata "só" reclamando da vida. Que deveria ser mais agradecida pelo marido, filhos, etc, etc, etc, e que as pessoas não tinham a obrigação de ler os despejos que ela fazia para chamar a atenção.

Sim! Tente falar todas as suas verdades nas redes sociais e você verá o que acontece. E essa questão precisa ser levantada por mim, por você, para que os nossos filhos saibam que as redes sociais não representam a realidade da vida de uma pessoa. É tão, tão importante demonstrarmos isso quanto os nossos filhos aprenderem a ler e a escrever.

Também recentemente o meu marido me contou sobre uma conhecida que se suicidou. "Pelas fotos do Facebook não dava para perceber o quanto ela estava sofrendo, ela só postava fotos sorrindo", ele me disse. E esse é o talvez o grande abismo que precisamos ajudar os nossos filhos a transpor, enquanto pais e adultos: Ficção e realidade; Amizades reais e virtuais; Mundo interno e externo; 

Sem saber o que fazer e comparando o nosso "bastidor" com esse palco lindo onde as pessoas encenam na Internet, acabamos solitários nas nossas angústias, acreditando que estamos sozinhos na luta contra inimigos emocionais silenciosos. - "Vai passar" é uma frase comum usada por pais de adolescentes, fruto da consciência coletiva sobre a adolescência e também da vergonha em assumir o problema e da falta de apoio para as questões dessa fase de vida dos filhos.

Não é fracasso admitir que não sabe lidar com determinada situação, pelo contrário, a nossa incapacidade de falar sobre o assunto de forma adulta e civilizada é que está impossibilitando encontrarmos a solução.

A verdade é que os pais de adolescentes estão enfrentando também uma crise de identidade fortíssima, aliada ao fato de não terem aprendido a lidar com as próprias emoções e a terem que lidar com tecnologias, que nem eles entendem tão bem.

É duro falar sobre isso? Muito. Fere o nosso ego admitir que estamos errando a mão e não sabemos absolutamente quase nada sobre como lidar com um mundo cada vez mais tecnológico.

Mas que bom que estamos conversando sobre isso, não acha? Que bom que temos uns aos outros para trocar informações sinceras sobre o assunto.

É simplista colocar na Internet a frase "a culpa é dos pais", "é só ficar presente", "controle mais", e não debatermos um novo modelo de sociedade, a nossa forma de julgar, a nossa forma de comunicar, de controlar, de estar presente. E não dará certo se não deixarmos a mania de separar dois lados: Os pais que acertam e os pais que erram. Os pais maravilhosos, que tem filhos adolescentes que "jamais" participariam de um jogo como esse do Baleia Azul e os "outros" pais, ausentes, cruéis, que dão tudo o que os filhos querem e sofrem as consequências.

 

3- O jovem precisa pedir ajuda


Seria o mundo ideal, mas infelizmente não é o que ocorre em muitos casos. Você pede ajuda para todos os seus problemas? Ou anda lutando batalhas que todos desconhecem?

Na série 13 Reasons for Why os pais de Hannah se questionam várias vezes como eles não perceberam. Não houve uma carta, um pedido formal de socorro, nada. 

Esses dias eu estava lendo os comentários na FanPage oficial do seriado. Um jovem relatou que quando sofreu com depressão não mostrou nas suas redes sociais o que estava sentindo, ao contrário, começou a postar coisas alegres e aleatórias.

Na vida real, a mãe da jovem Maria de Fátima disse ter conversado com a filha e recebido como resposta: - Mãe, não tenho nada. Sobre ajuda oferecida pela mãe ela também recusou. Se essa mãe pensou que a filha pudesse realmente se matar? Provavelmente não. Se estava preocupada e aflita, ela mesmo relata que sim.

Alguns comentários das redes sociais relatam exatamente comportamentos contrários, do tipo: "Eu fazia coisas sem sentido e ficava tirando sarro das coisas para disfarçar a minha tristeza".

Se você não é parte da solução, então você é parte do problema.  Eldridge Cleaver

Então o que é uma ação consciente e eficiente que podemos tomar para que os filhos sintam segurança em se abrir com alguém, sejam os pais, um amigo, um profissional?

Que bom, a conversa já começa a andar para o estágio pós reflexão, que é a fase da Ação, da solução. Você me permite fazer uma citação que faz muito sentido para mim? 

Se você não é parte da solução, então você é parte do problema.  Eldridge Cleaver

Essa frase traduz muito bem o espírito do artigo. Se o seu comentário só vem com crítica, então você faz parte do problema. Você contribui para a consciência coletiva que marginaliza os adolescentes e culpa os pais de adolescentes.

Na nossa reflexão eu conclui que o Jogo Baleia Azul, o jogo Choking Game (que matou um adolescente de 13 anos na Praia Grande) são o nosso despertar para a questão principal: Agir sobre o que leva esses adolescentes a decidirem participar de algo dessa natureza. 

E então aqui eu te peço mais uma xícara de café e começamos um brainstorming (tempestade de ideias) sobre como podemos reverter essa situação. Como eu te prometi no começo do artigo, eu vou começar dando as minhas sugestões:

 

1) Encontre um jeito do seu filho se conectar com o mundo interno dele, mesmo que hoje ele não apresente sintoma nenhum


O mundo de hoje pede calmaria. Pede reflexão, espaço interno para pensar.

O mundo de hoje massacra os jovens em vestibular e competição, em notas e selfs perfeitas.

Atividades que proporcionem prazer ao seu filho são fundamentais. Yoga, meditação são extremamente (e cada dia mais) essenciais. Porque é preciso silenciar. Outros tipos de esporte, que extravasam a carga emocional também.

Eu aprendi a meditar para ensinar a minha filha. Eu acredito que podemos levar os nossos filhos a navegar por mares que já navegamos, então eu aprendo e ensino e por isso eu tive primeiro que aprender o quão difícil é silenciar a minha própria mente. Sempre que a minha filha está inquieta e faz drama, eu me lembro de que o lugar que ela está naquele momento eu também visito muitas vezes.

E nesse momento eu sou capaz de ajudá-la porque eu digo: Eu sei, eu entendo, eu acolho. Quero te ajudar a sair daí porque eu sei o quão assustador isso é.

E você, como se conecta com o seu mundo interior? Como pode ajudar o seu filho a se conectar com o mundo dele? Eu quero te ouvir nesse momento...

 

2) Uso de tecnologia, o Excesso que desregula o cérebro. Desconecte-se.


Eu vou te contar que quando eu criei o meu programa Detox Digital, que é para eliminar o excesso de tecnologias da vida dos filhos, eu me dei conta de que eu precisava de um Detox também.

Talvez você precise aprender antes, assim como eu. Se desconecte para ensinar o seu filho a se desconectar. Eu tenho vários vídeos do Youtube falando sobre os efeitos químicos do excesso de tecnologia na vida dos filhos, eu pesquisei bastante e é assustador ver que não sabemos disso. Informação, lembra? Essa é a primeira parte (pelo menos para mim) da solução.

Já está comprovado que o excesso (tempo de uso) aumenta a depressão e ansiedade nos jovens. O cérebro não foi feito para tanta informação ao mesmo tempo e o sono é extremamente prejudicado. Muita informação libera cortisol, desregula a quantidade de dopamina e causa mais ansiedade, agressividade e falta de concentração.

E novamente eu vou te pedir para experimentar primeiro. Fique sem se conectar, sem celular, sem mensagens o dia todo, sem grupos de Whatsapp. E sinta. Sinta como pode ser difícil para você, adulto, consciente, com muita bagagem de vida. Imagine para o seu filho, que nem sabe o que é viver sem tecnologias?

Faça acordos com o seu filho sobre os horários de uso, mas cumpra também esses acordos. Busque opções de laser em família, pratique alguma atividade física e saia, vá para o ar livre com o seu filho, tome sol. Vai fazer um bem danado para vocês dois.

 

3) Converse sobre emoções com os seus filhos

 

É desafiador falar sobre as nossas emoções. Não fomos ensinados a isso, mas agora você precisa aprender.

Converse sobre os seus medos, as suas angústias. Mostre para o seu filho como você supera tudo isso, é importante para eles sentirem que não estão sós nos conflitos e que é possível sair dos problemas.

Em conversas no almoço e no jantar vocês poderiam falar cada um sobre o que estão sentindo naquele dia. Em uma caminhada, fazendo alguma tarefa da casa. Comece sempre falando de você, sobre os seus desafios.

E novamente talvez aqui você perceba que precisa de ajuda. Se não consegue resolver os seus desafios, se as suas questões estão afogando você, busque ajuda. Indo primeiro, navegando primeiro, desbravando primeiro, você mostra para o seu filho o caminho.

Não cobre dos seus filhos a coragem de enfrentar os problemas. Mostre para ele como você enfrenta os seus.

 

 

4) Não se afaste do seu filho, mesmo que ele te peça isso

 

Depressão é coisa séria, doença e não frescura. Seu filho vai tentar esconder de você, por vergonha, por medo.

Você já teve a oportunidade de conversar com alguém depressivo? Eles estão lutando e muitas vezes essa luta pode ser solitária. E se cansarmos, ele cansa também.

Se o seu filho mandar você sair, fique. Escute. Abrace. E faça tudo para que ele saiba que ele não está sozinho.

Busque novamente ajuda para você conseguir passar pela fase de turbulência. Não adoeça junto, não perca as esperanças e cuide-se. Seu filho precisa da sua clareza.

Não se esconda na vergonha, não faça isso. Não se esconda na culpa. Não se esconda em frases como "vai passar", "aborrescente é assim mesmo", por favor. Peça ajuda, por você, por ele.

 

5) Converse com o seu filho, sempre.

 

Conte a sua história para o seu filho. Por incrível que pareça os pais não fazem mais isso.

Converse com o seu filho quando nada disso estiver em pauta, quando apenas for o dia a dia. Sobre amenidades, sobre política, sobre religião, sobre a escola, sobre sexo, sobre escolhas, sobre desafios.

Desligue mais a TV, o celular e converse mais, olhe nos olhos, se interesse, ouça bastante, pare de dar respostas prontas para tudo, reconheça os esforços do seu filho, mostre os valores da família, peça desculpas pelos seus erros, repreenda, seja firme, mas mostre acima de tudo que existe um caminho melhor.

O contato, a conversa, a presença é que te trará pistas quando o comportamento do seu filho mudar.

 

6) Fale sobre isso com mais amigos, com a comunidade, com a escola

 

Que tal participarmos mais? Já falou na escola sobre o assunto? No seu prédio, que tal organizar uma palestra sobre o assunto?

Algumas iniciativas bacanas estão surgindo, como a baleia rosa. Várias pessoas estão compartilhando no Facebook o telefone do CVV, dando palavras de conforto, palestras, ombro amigo.

Precisamos nos manter acordados por um tempo maior, sabe? Porque corremos o risco de adormecermos novamente e do movimento parar na mesma velocidade que começou, simplesmente porque daqui a algum tempo o jogo da Baleia Azul vai cair do esquecimento, até que outro jogo surja para nos acordar.

Adorei o nosso bate papo hoje. Obrigada por me ouvir. Me fala agora quais as suas sugestões, quero muito saber.

Tome um café com outra mãe ou pai. Compartilhe essa mensagem.

Com amor,

Jacqueline

 

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